Do axé às pistas eletrizantes: Eli Iwasa fala sobre ascensão da música eletrônica no Carnaval


DJ, produtora e empresária, Eli Iwasa reflete sobre a evolução e transformação da música eletrônica no Brasil, além da crescente presença feminina na indústria. Com uma trajetória multifacetada, ela se consolidou como um dos principais nomes da cena eletrônica nacional, equilibrando sua carreira artística com a gestão de espaços culturais icônicos em Campinas, como o Club 88 e o CAOS, além de comandar seu próprio selo, Heels of Love.
Transitando entre os palcos de grandes festivais e a curadoria de experiências imersivas, Eli tem atraído um público cada vez mais fiel e entusiasmado. Sua agenda de Carnaval reflete esse crescimento: apresentações lotadas por diversas cidades do país e um público que abraça cada vez mais o gênero eletrônico. A questão que fica é: será que o brasileiro está deixando o samba de lado para abraçar de vez a música eletrônica?
Para Eli, esse movimento é inevitável. “Isso é reflexo do crescimento e amadurecimento da cena eletrônica brasileira, que atravessa um ótimo momento. Como deixar a música eletrônica fora da maior celebração do país? Hoje em dia é impossível, e é super interessante perceber como as festas eletrônicas fortalecem o Carnaval, movimentam o mercado e enriquecem seu calendário cultural.”
A evolução do público brasileiro acompanha o amadurecimento da cena eletrônica, indo além dos eventos e se consolidando na produção musical e na formação de uma identidade própria. “A música eletrônica no país vive um momento de expansão e amadurecimento — não só em relação a eventos, mas principalmente quanto à produção musical e a consolidação de uma identidade nossa. A informação hoje chega a todo mundo, o público tem acesso aos lançamentos, novidades, aos melhores festivais e clubs, o que faz com que ele seja muito exigente. A entrega tem que ser primorosa.”
Apesar do crescimento e da aceitação cada vez maior, o cenário eletrônico ainda enfrenta desafios relacionados à equidade de gênero. Eli, que iniciou sua carreira há mais de 20 anos, lembra que o mercado era muito diferente no passado. “Meu desejo é que um dia, isso não seja mais uma questão, mas ela ainda é, e ainda existem muitos desafios — é um mercado predominantemente masculino, em que a misoginia e as diferenças de oportunidades existem, mesmo de uma maneira velada. Eu prefiro olhar para a evolução, principalmente nos últimos cinco anos, cada vez mais mulheres ocupando seus lugares como protagonistas de suas cenas — e é um caminho sem volta, cada vez mais mulheres vão se destacar nos palcos e nos bastidores também.”
A força da música eletrônica no Brasil reside na capacidade do país de consolidar estilos diversos, do underground ao mainstream, proporcionando experiências únicas que atraem a atenção do mercado internacional. Para Eli, essa diversidade é o diferencial que torna o Brasil um destino cobiçado por artistas e produtores do mundo todo. “O Brasil conseguiu fazer com que ambas cenas se consolidassem, com ótimos eventos em termos de curadoria e produção, cada uma com sua identidade, que fez o Brasil se tornar uma das cenas mais desejadas no mercado internacional. O que temos aqui é muito especial. Falando de Carnaval, o que vivi e vi nos eventos da BOMA no Museu do Amanhã, na Rara, na Novo Affair, do underground ao mainstream, com a energia do público, com as curadorias afiadíssimas, as entregas — você não encontra isso em lugar algum do mundo.”
Viajar pelo mundo e tocar em festivais e clubes icônicos só reforçou sua visão sobre a singularidade do público brasileiro. Para Eli, a alegria e energia do Brasil são incomparáveis. “Tem país mais feliz e festeiro que o Brasil? Quanto mais eu viajo, mais eu valorizo o que temos aqui, e é demais fazer parte desse momento — ver a evolução, estar nas festas e festivais, e perceber que o que construímos é especial demais. E não é só sobre os eventos lindos que são produzidos, a entrega técnica perfeita — é a energia das pessoas que sempre fez isso único, mesmo quando tudo aqui era mato ainda rs.”
Eli Iwasa também deixa uma mensagem importante para aqueles que desejam construir uma carreira na música eletrônica: “Descobrir o que te move, qual sua visão, seus valores e manter-se fiel ao que acredita. Acho que você sempre vai saber o que é melhor para você.” Com uma trajetória que mistura inovação, autenticidade e conexão genuína com o público, Eli Iwasa mostra que a música eletrônica não só encontrou seu espaço no Carnaval brasileiro, como também o transformou. A folia agora também é embalada por beats eletrônicos que fazem multidões dançar ao som de uma cultura que veio para ficar.
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